Há muito que o habitat natural dos Chemical Brothers é o palco. Os dois mais recentes empreendimentos de estúdio assim o confirmam: o discreto «Further» e a banda sonora de «Hannah» marcaram a fuga aos hinos de estádio que os «irmãos químicos» sempre fizeram questão de criar a partir de bases instrumentais criteriosamente escolhidas.
Nas veias de Ed Simons e Tom Rowlands corre sangue azul de electrónica grandiosa e só assim foi possível chegar ao icónico festival Fuji Rock, no Japão, com o peso de um cabeça-de-cartaz e com uma estrutura capaz de captar o concerto do ponto de vista de quem sente os graves no coração. Ao invés de uma realização hollywoodesca com câmaras a cirandar no palco, os Chemical Brothers quiseram pôr-se do lado do povo.
Uma ideia brilhante que supera largamente o conceito. Não há memória de uma abordagem com esta grau de democraticidade na história visual do rock. «Don´t Think» capta com fidelidade a capacidade sinestésica de canções que nasceram em estúdio, cresceram na pista e vivem agora em arenas, sem que com isso tenham perdido validade.
Filosoficamente, e por muito que nos peçam para não pensarmos - e é assim que esta aproximação de um live act a um concerto rock tradicional - deve ser vivido, «Don´t Think» é uma viagem psicadélica com argumento sustentado. Ainda é possível guiar os sentidos com uma narrativa inteligente capaz de alimentar ancas e neurónios.