O novo dos Animal Collective é um disco iluminado.
Uma voz estranha repete incessantemente "you can dance" na abertura do novo álbum dos Animal Collective, preparando-nos para o que se seguirá, embora o trio demore a lançar qualquer sequência rítmica. Dois minutos depois, quando uma atmosfera misteriosa já se acomodou, o cantor Avey Tare atira "if i could just leave my body for a night" e os ritmos, as melodias e as vozes multiplicam-se.
Ao longo de todo o álbum irá ser sempre assim. Cada canção são imensas canções, camadas sobrepostas e cânticos em crescendo até ao infinito, numa estrutura sónica intrincada.
Em cada canção as vozes exaltam-se, Panda Bear compete com Avey Tare, os ritmos complexificam-se, os sons acumulam-se, embarcando todos num turbilhão obsessivo e, no entanto, o que sai desta gigantesca escultura sonora é de uma clareza emocional e eficácia sonora extraordinárias.
Enquadrar o grupo americano, que agora se divide por Nova Iorque, Washington e Lisboa, nunca foi fácil e não é ao nono álbum de originais que o será. "Merriweather Post Pavilion" constitui, em parte, a súmula da viagem iniciada no princípio do século, mas com novos ingredientes e organizada em estado de radiosa felicidade, como nunca antes.
Harmonias pop, cânticos comunitários, psicadelismos, ecos dub, sequências tecno, minimalismos, percussões errantes, tudo ajustado numa dança dinâmica, numa compulsão tentacular de referências dificilmente verificáveis (de Steve Reich aos Beatles, de Ricardo Villalobos a Caetano Veloso), que resulta fluida e imaterial, como se tivessem descoberto o segredo de converter o caos em harmonia. Brilhante.
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