O último disco de M. Ward “Transistor Rádio” era uma homenagem à idade de ouro da rádio, em que um DJ trocava compulsivamente de vinis e o pó cravado nos sulcos se ouvia a crepitar nos altifalantes. O novo trabalho, “Post War”, produzido de forma quase artesanal ao longo dos dois últimos anos, apresenta uma sonoridade límpida e deliciosa, com participações refinadas de gente como Neko Case, Adam Selzer ou Jim James (My Morning Jacket), e canções de tal forma universais, que nos surgem familiares desde a primeira audição. Será talvez a sua voz rica e sedutora, um misto de mel e cigarros, de Nina Simone e Tom Waits; ou ainda o seu modo singular de tocar guitarra, o blues/folk dos Apalaches, a exuberância, os solos fora de tempo, o ritmo irrepreensível. Seja como for, M. Ward é, factualmente, um artista único, quanto mais não seja pelo número de amigos que contam com o seu talento das mais variadas formas: Meg White, amante dos blues e do country, convidou pessoalmente Matt como suporte aos White Stripes na recta final da digressão norte americana, em 2005. Connor Oberst (Bright Eyes), juntou-se a Ward na digressão acústica “Monsters Of Folk”. No ano passado co-produziu “Rabbit Fur Coat”, o celebrado disco de estreia de Jenny Lewis (Rilo Kiley) e, com esse especial gosto pelos projectos paralelos, compilou e produziu, já este ano, um disco de versões de John Fahey “I Am The Resurrection”, um tributo ao lendário guitarrista cuja destreza à guitarra tanto o influenciou. Por tudo isto, “Post War” é um disco que sugere uma atmosfera cheia de remoinhos, com melodias de efeitos quase hipnóticos. Trata-se de um grande passo para um homem acostumado a trabalhar os seus disco completamente a solo, este é, como diz com orgulho, o seu primeiro disco com banda, dado ter chamado ao estúdio os músicos com quem tem colaborado nas digressões. “Post War” é uma deliciosa e venenosa mistura de alegria e arrependimento, despedidas e celebrações. E sobretudo, um disco romântico, devastadoramente romântico.
Para Ouvir:
Poison Cup
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