Porventura o nome Shannon Wright não significará nada para muitos, mas com certeza não foi esquecido por todos os outros que há cerca de um ano tiveram a oportunidade de partilhar uma intensidade mágica e ímpar num concerto seu de abertura para os Calexico.
Tal como tudo ou quase tudo, também Shannon Wright não surgiu do nada. Originária de Jacksonville, a primeira banda de Shannon foram os Crowsdell, os quais após um EP e dois álbuns de originais, foram literalmente despachados pela sua editora, a Big Cat Records. A opinião de Shannon acerca da indústria discográfica em geral não era agora propriamente cor-de-rosa, e todo este processo conduziu inclusive ao desaparecimento da banda, e à mudança de Wright (que agora se encontrava em N.I.), para uma quinta na Carolina do Norte. E foi precisamente aí que a sua carreira a solo se começa a desenvolver, através de um prolífero processo de composição que viu no piano o complemento perfeito para a guitarra. É assim que surge em 1999 "Flight Safety", o qual denota já uma enorme maturidade a nível de composição, bem como uma fluidez e convergência de referências e abordagens sonoras invejáveis. Seguem-se então "Maps of Tacit" e ainda "Perishable Gods", e eis então que chegamos a "Dyed In The Wool", porventura o disco mais grandioso e belo que até hoje fez. Se a sua requintada produção, bem como o dedinho de notáveis convidados como Steve Albini ou Andy Baker, foram essenciais ao resultado final, foi contudo a enorme virtuosidade também a nível instrumental de Wright que uma vez mais se revelou de facto determinante na composição, estando a cargo dela pianos, guitarra, órgãos, teclados, bateria, e claro a voz. Voz essa cujo registo grave pode ser perturbante pela forma profunda e visceral com que exalta emoções intensas ou suave de um modo ferido e tocante, singular na sua autenticidade e expressão. Mas singular é ainda toda a manta sonora que compõe "Dyed In The Wool", tecida numa enorme variedade de elementos e abordagens, cuja enorme consistência melódica, vai desde a crueza densa e quase frenética das guitarras eléctricas (com reminiscências de Blonde Redhead), por dedilhares melancólicos ou hipnotizantes de guitarras e pela grandiosidade quase em jeito de elegia épica dos pianos juntamente com os violinos. A subtil magnificência dos arranjos que podem ser soturnos e densos, criando um clima obscuro e sombrio aqui quase omnipresente, por vezes revestem-se ainda de um carácter cinemático grandioso ou mesmo cabaret, e ascendente de uma forma quase orquestral. O mais curioso em tudo isto é que estes elementos se fundem de uma forma tão consistente e perfeita, que revelam uma forma de ver a música como um todo que surge naturalmente de Wright.
Shannon Wright publicou em Maio o novo trabalho “Let in the light”. É a continuação de Over the sun e conta novamente com a colaboração de Andy Baker. Neste álbum Wright toca todos os instrumentos à excepção do baixo a bateria.
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